segunda-feira, 20 de junho de 2011

Coluna do Residente Ano 1 Número 6

Artigos de interesse

Prolapso de órgãos  pélvicos  -  ciência básica começa a desvendar regulação da elastogênese na parede vaginal e seu papel no prolapso.

O prolapso dos órgãos pélvicos (POP) é um conjunto de condições ginecológicas/proctológicas e urinárias que afetam uma larga faixa da população feminina, debilitando milhões de mulheres no mundo todo.  Nos Estados Unidos estima-se que o seu custo anual seja superior a 1 bilhão de dólares. Os procedimentos todos utilizados para a sua correção têm um índice geral de falhas acima de 30% e, a cada novo procedimento, o risco cumulativo de insucesso piora enormemente. A elasticidade dos tecidos levando a frouxidão do assoalho pélvico vem sendo exaustivamente estudada e, apesar disso, avança lentamente até o momento.
Um artigo recente  de pesquisa clínica experimental demonstrou  que dois fatores parecem ser, em conjunto,  responsáveis diretos do controle da síntese de fibras elásticas do tecido vaginal (elastogênese).   A Fibulina 5 regula a produção dessas fibras e ao mesmo tempo  suprime a atividade da enzima Metalloproteinase 9 (MMP9). Quando a Fibulina 5 está ausente, fibras elásticas anormais são produzidas e a MMP9 é ativada (estimando-se no modelo animal seguido a presença de 96% dos indivíduos com prolapso de órgãos). Quando há ausência de ambos os fatores  há também produção de fibras anormais, mas não há ativação da enzima e o resultante estimado, do ponto de vista clínico,  Na situação da Fibulina e MMP9 expressarem-se normalmente as fibras são normais e não há prolapso.
Parece que nas mulheres  o padrão é o mesmo, embora os estudos tenham ainda um pequeno número de pacientes investigadas nesse sentido. A se confirmar isso abrem-se várias perspectivas de intervenção nesses dois mediadores  antes da menopausa quando o processo se desencadeia. 


Budatha M, Roshanravan S, Zheng Q, et al. Extracellular matrix proteases contribute to progression of pelvic organ prolapse in mice and humans. J Clin Invest 2011;121:2048-2059


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Exemestane e a prevenção de câncer de mama.


Os efeitos colaterais do Tamoxifeno e Raloxifeno levam a uma baixa aceitação do seu uso pelas  pacientes elegíveis  para a prevenção primária do câncer de mama.
Algumas evidências indicam que os inibidores da aromatase também  podem prevenir o câncer de mama contralateral com desempenho melhor e causar menos efeitos colaterais do que o Tamoxifeno em pacientes com câncer de mama em estágio inicial.

Um estudo randomizado, controlado com placebo e duplo-cego de Exemestane foi  projetado para detectar o efeito de redução por esses agentes em relação ao  câncer de mama invasivo.
Foram elegíveis mulheres pós-menopausa,  de 35 anos de idade ou mais velhas, com pelo menos um dos seguintes fatores de risco: 60 anos de idade ou mais; Gail score  (5 anos) risco maior do que 1,66% (em 100 chances de desenvolver câncer de mama invasivo em até 5 anos); hiperplasia atípica ductal ou lobular ou carcinoma lobular in situ, ou carcinoma ductal in situ com mastectomia.
Foram medidos os efeitos tóxicos  e a qualidades de vida.
Um total de 4.560 mulheres para quem a idade média foi 62,5 anos eo escore de risco médio Gail foi de 2,3% foram aleatoriamente designados para Exemestane ou placebo. Em um acompanhamento médio de 35 meses, 11 cânceres de mama invasivos foram detectados naqueles no grupo com uso do  Exemestane  e  32 casos no grupo placebo,
Essa diferença significa  uma redução de 65% relativa na incidência anual de câncer de mama invasivo (0,19% vs 0,55%; hazard ratio, 0,35, 95% intervalo de confiança [IC], 0,18-0,70, P = 0,002).
A incidência anual de câncer não invasivo mais invasivos (carcinoma ductal in situ) de mama foi de 0,35% no grupo em uso do Exemestane e 0,77% no grupo placebo (hazard ratio, 0,47; 95% CI, 0,27-0,79, P = 0,004).
Eventos adversos ocorreram em 88% do grupo do Exemestane e 85% do grupo placebo (P = 0,003), sem diferenças significativas entre os dois grupos em termos de fraturas ósseas, eventos cardiovasculares, outros tipos de câncer, ou tratamento relacionado com as mortes.
As diferenças na qualidade de vida observadas entre os grupos foram mínimas.

Conclusões
O  Exemestane reduziu significativamente a incidência de  cânceres de mama invasivo em mulheres na pós-menopausa que estavam em risco moderadamente aumentado para a patologia.
Durante um período médio de acompanhamento de 3 anos, Exemestane foi associado a nenhum efeito tóxico grave e apenas mudanças mínimas na área da no tocante à  qualidade de vida dessas pacientes.
Goss PE, Ingle JN, Alés-Martínez JE, et al. Exemestane for breast-cancer prevention in postmenopausal women. N Engl J Med 2011. DOI: 10.1056/NEJMoa1103507
Comentário do editor:
O alto custo do medicamento ( ao redor de USD 3.600/ano)  é um fator bastante limitante e questionável considerando-se o estabelecimento de uma uma vigilância clínica adequada.

Níveis altos de um hormônio do crescimento pode ser um marcador precoce e preditivo da evolução da doença renal crônica.  
A doença renal crônica tem dimensões gigantescas pelo mundo. Apenas nos Estados Unidos ela afeta 23 milhões de pessoas. A evolução para a diálise e o transplante constitui um problema ainda mais sério. No mundo, a grosso modo, estima-se que existam pelo menos 2 milhões de pessoas dependentes dos programas de diálise. Os gastos com os renais crônicos nos Estados Unidos respondem por quase um quarto do custo total em saúde (quase 60 bilhões de dólares/ano).
Informe do NIH americano de 20 de junho de 2011, revela a descoberta em pesquisa patrocinada pelo órgão associado ao NIH ( National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases) na Universidade de Miami, com a liderança do Prof. Myles Wolf de que os níveis do hormônio de  crescimento dos fibroblastos (FGF23) pode predizer a evolução dos pacientes com doença renal crônica e orientar as estratégias de tratamento.  O estudo foi realizado em 3.900 pacientes renais crônicos em 13 locais entre junho de 2003 e setembro de 2008 e foi publicado no último dia 15 no Journal of the American Medical Association.
Num estudo prévio os níveis elevados do FGF23 em pacientes renais crônicos que iniciavam o programa de diálise  já tinham demonstrado uma chance  6 vezes maior de alto risco de mortalidade em comparação com pacientes com níveis baixos desse hormônio.
O FGF23 atua na regulação dos níveis de fosfato no organismo, que por sua vez exerce importante papel na manutenção do tecido ósseo, dentário e em funções celulares diretas e inespecíficas.
No rim o FGF23 regula os níveis de fosfato. No renal crônico a elevação do fosfato é um problema sério no tratamento.  A elevação do FGF23 ocorre antes de isso acontecer e, portanto, funciona como um marcador desse tipo de evento e pode antecipar medidas de controle do fosfato no renal crônico.
Nesse estudo os riscos de morte e de fase final da doença renal também estiveram correlacionados diretamente com a elevação do hormônio FGF23 ( 3x o risco de morte e 2x o de estágio final da doença renal quando comparados  pacientes com altos níveis do hormônio e aqueles com  baixos níveis).
Não se sabe ainda se além de ser um marcador dos pacientes renais crônicos de alto risco se o FGF23 poderá ser alvo de uma nova linha de tratamento, através de intervenção em seus níveis.
Isakova T, Xie H, Yang W, Xie D, Anderson AH, Scialla J, Wahl P, Gutiérrez OM, Steigerwalt S, He J, Schwartz S, Lo J, Ojo A, Sondheimer J, Hsu CY, Lash J, Leonard M, Kusek JW, Feldman HI, Wolf M; Chronic Renal Insufficiency Cohort (CRIC) Study Group.
JAMA. 2011 Jun 15;305(23):2432-9