Terminou ontem dia 19 de maio em Washington o Congresso da American Urological Association, abaixo comentamos as principais mensagens práticas na área da urologia feminina:
Obstrução após cirurgias de sling
Grande problema, além da possibilidade de infecção crônica ou recorrente, é a perda da função contrátil do detrusor que se deteriora rapidamente(*). Mensagem foi de que o diagnóstico e tratamento devem ser o mais precoce possível para preservar, ou mesmo recuperar, a função do detrusor
(*) músculo liso tem uma capacidade limitada de se hipertrofiar, compensando o esforço necessário para o esvaziamento vesical. Geralmente, a hipertrofia ocorre, mas em poucos meses há tendência à perda de elasticidade e massa muscular, traduzidos na clínica pela ineficiência do esvaziamento (baixo fluxo com baixa pressão do detrusor e resíduo aumentado) e trabeculação vesical até com formação de divertículos. Além disso, por sua natureza inerente, a contração vesical é limitada e involuntária (não pode ser prolongada indefinidamente no tempo, compensando o fator obstrutivo).
Novidades na Incontinência Urinária de Esforço
Para os casos de IUE com presença de hipermobilidade do colo vesical está em curso o uso de uma técnica experimental com a finalidade de fixar o colo em sua posição anatômica (ou mais próximo disso) com a utilização de Radiofrequência Transuretral. Casuística reportada no Congresso foi realizada em base ambulatorial com 20 a 30 minutos de duração do procedimento. A conferir no futuro os resultados, durabilidade e efeitos negativos nos tecidos periuretrais em caso de falha e necessidade de um novo procedimento (rigidez uretral???).
Mini Slings
Estatística americana – 20% das cirurgias envolvendo slings nos EUA são do tipo mini-sling, mesmo sem estudos robustos demonstrando sua eficácia no médio e longo prazo. Cursos que ocorreram em paralelo na área da Uroginecologia apresentaram um consenso de que os mesmos devam ser indicados em casos selecionados e, principalmente ainda, em estudos experimentais para aferir o seu desempenho. Suas vantagens aparentes de menor invasão e menos dor precisam ser confirmadas no longo prazo.
Tratamento da Incontinência Urinária de Esforço
Ainda nessa área reafirmado o conceito de que diante de um prolapso genital a IUE só deverá ser tratada conjuntamente se houver confirmação objetiva do seu diagnóstico - demonstração urodinâmica, exame clínico ou queixa específica e consistente referida pela paciente.
Para os casos de IUE por hipermobilidade a mensagem é de que qualquer tipo de técnica é útil e benéfica. Para os casos de insuficiência esfincteriana os slings retropúbicos vêm em primeiro lugar, apesar de alguma controvérsia na literatura. O sling transobturatório tem indicação acertada nos casos de incontinência associada/ ou com possibilidade de hipocontratilidade no esvaziamento (notadamente em pacientes idosas).
Disfunção sexual feminina secundária à cirurgia pélvica
Foi apresentado um estudo originário de Milão na Itália em que se aplicou a técnica de histerectomia radical com a preservação de feixes nervosos da região pélvica em casuística específica e seguimento voltado aos aspectos de disfunções miccionais, sexuais e de dor pélvica. O assunto não é novo e o “nerve sparing” tem uma analógica muito grande com o que se observa nos casos masculinos de prostatectomia radical em relação a disfunção erétil.
Bexiga Hiperativa
Muitos trabalhos. Embora ainda não conclusivos e prontos para utilização prática, tendências observadas apontam um caminho promissor no conhecimento e manejo dos neurotransmissores presentes na mucosa e submucosa vesical e mesmo todo o urotélio.
Também foram apresentados vários trabalhos enfocando a neuro-estimulação ou neuro-modulação, técnicas ainda pouco aplicadas no Brasil. A via mais utilizada num primeiro momento é a via sacral, que dispõe inclusive de um dispositivo permantente já comercializado há alguns anos. O nervo pudendo pode ser uma alternativa válida e eficaz quando a via sacral não apresenta resultados. Estudo apresentado mostra eficácia dessa alternativa em 90% dos casos. A conferir.
Infecção urinária de repetição
Vários trabalhos na esfera do uso de pró-bióticos, uso de lactobacilos selecionados ou mesmo bifidobactérias alterando a ecologia vaginal com vista à diminuição da colonização vaginal que precede os episódios de infecção urinária. Estudos até o momento vinham esbarrando em cepas adequadas e duradouras nesse tipo de intervenção com um número muito pequeno de microorganismos com esse perfil.