terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Ovário policístico é doença?


Gustavo Arantes Rosa Maciel*

Hoje em dia com a popularização do uso do exame de ultrassonografia ginecológica, tornou-se muito comum a identificação de achados ultrassonográficos de ovários policísticos ou ovários de aspecto micropolicístico.  Isso por vezes gera muita dúvida e, eventualmente, alguma preocupação nas mulheres.
O ovário é um dos órgãos mais dinâmicos do corpo humano, pois durante a fase reprodutiva da vida da mulher, passa por transformações dramáticas num período relativamente curto. Os ovários são responsáveis pela produção de hormônios sexuais femininos em também pela ‘guarda’ e pelo ‘preparo’ do gameta feminino (óvulo) que mensalmente ficará pronto para ser fertilizado após a ovulação. 
A mulher – assim como todos os mamíferos – nasce com um número fixo de óvulos que serão gastos durante toda a sua vida, até a menopausa.  Esses óvulos são protegidos por estruturas chamadas folículos ovarianos.  A maioria desses folículos permanece num estado de repouso, como que guardados para o uso futuro. Após a puberdade (adolescência), um complexo sistema de interação entre o cérebro, os ovários, os órgãos genitais e o organismo como um todo, irá definir que um grupo de folículos deixará o estado de repouso e iniciará o processo de crescimento e desenvolvimento.  Na medida em que crescem, passam a produzir hormônios em grandes quantidades: hormônios masculinos (androgênios), que são convertidos em hormônios femininos (estrogênios) e hormônios responsáveis pela manutenção de uma possível gravidez (progesterona).  Além de produzirem hormônios, os folículos preparam o óvulo para ser ovulado e posteriormente fecundado. Na ausência de fecundação, ocorre a menstruação. Esse processo se repete numerosas vezes durante a vida da mulher e apenas um óvulo por ciclo menstrual será escolhido. Todos os outros que iniciaram o crescimento, mas não conseguiram ovular, entrar em morte celular, num processo chamado atresia.  Apenas 0,1% dos folículos totais da mulher serão ovulados.
Com a ultrassonografia, é possível identificar esses folículos a partir de um determinado tamanho e essa informação pode auxiliar no diagnóstico de uma série de anormalidades na saúde do sistema reprodutivo feminino.  No entanto, muitas vezes, um exame de ultrassom único, pode identificar imagens de múltiplos folículos em desenvolvimento (que podem ser confundidos com microcistos), sem que isso signifique doença.  Além disso, é sabido que cerca de 20% das mulheres, com ciclos menstruais normais e sem nenhuma doença, podem apresentar ovários de aparência policística ao ultrassom. Esses índices tornam-se ainda maiores durante a adolescência, pois o sistema reprodutor não terminou seu processo de maturação.
No entanto, a presença de ovários policísticos pode estar associada a uma série de alterações hormonais que não são normais e podem representar riscos às mulheres. Alterações persistentes no ciclo menstrual, aumento de pelos pelo corpo ou acne em grande quantidade, presença de secreção nos seios fora do período de gravidez ou lactação, ausência de menstruação, infertilidade, ganho de peso excessivo, entre outras, podem ser sinais de alterações hormonais que devem ser investigadas.   Assim, a presença de ovários policísticos ao ultrassom deve sempre ser avaliada por um ginecologista, pois ele tem condições de determinar se o problema trata-se de uma doença ou se é apenas um achado casual, sem importância clínica.
 Janeiro/2013
*Prof. Dr. Gustavo Arantes Rosa Maciel
É professor livre-docente da Disciplina de Ginecologia da Universidade de São Paulo