Dr. Sérgio Podgaec
Setor de Endometriose da Divisão de Clínica Ginecológica do HCFMUSP
Sabemos
que a endometriose é uma doença freqüente e estima-se que afete 10 a 15% das
mulheres em idade reprodutiva, ou seja, durante o período da vida em que
ocorrem os ciclos menstruais e há possibilidade da mulher engravidar. A
suspeita da presença dessa doença aparece quando a paciente apresenta dor em
baixo ventre em diversas situações: durante o período menstrual (cólica
menstrual); durante a relação sexual no fundo da vagina; de forma constante
(sem relação com o fluxo menstrual); ou mesmo quando evacua ou urina, de forma
cíclica, durante a menstruação. Além disso, importante salientar que não são
todas pacientes com endometriose, mas, ao redor de um terço das mulheres com
essa doença, podem ter algum grau de dificuldade para engravidar.
Para
chegarmos a um diagnóstico correto, é importante entender que existem três tipos
diferentes de endometriose: lesões muito pequenas que podem estar presentes na
região pélvica (chamada endometriose superficial), cistos de ovário (os
endometriomas ovarianos) e as lesões maiores que 0.5cm (chamada endometriose
profunda) que podem acometer diversos locais da pelve, como a região posterior
ao útero, o fundo da vagina, o intestino e a bexiga, entre outros. Algumas
vezes, os sintomas se relacionam ao local em que essas lesões se encontram,
como por exemplo, nas pacientes com dor na relação sexual, há a possibilidade
das lesões se concentrarem no fundo da vagina ou nas pacientes com sintomas
intestinais e urinários, as lesões estarem presentes no intestino e na bexiga,
respectivamente. Sabemos também que, por outro lado, há situações de pacientes
com poucas lesões e dores severas e mulheres com grande quantidade de doença,
livres de quaisquer sintomas.
Assim,
com esses conceitos e esses dados clínicos iniciais, o médico pode ter, no
exame ginecológico, informações que direcionam o seu raciocínio. Isso ocorre,
principalmente na presença das lesões profundas que podem ser reconhecidas
durante o toque vaginal e também quando há cistos de ovário volumosos que podem
ser sentidos nesse exame.
Mas,
quando há suspeita clínica da presença da endometriose, o principal auxílio diagnóstico vem com os
exames de imagem especializados na detecção da doença. Dizemos que o exame é
especializado porque é feito por radiologistas experientes em conseguir avaliar
todos os possíveis órgãos e regiões aonde as lesões podem surgir e por
realizar-se um preparo intestinal simples antes do exame, que permite a
visualização melhor dessas áreas do organismo. A ultrassonografia pélvica e
transvaginal e a Ressonância Magnética, feitas nessas condições, são ambas
capazes de detectar com alta precisão se há lesões profundas e cistos ovarianos
com suspeita de endometriose, ressaltando-se que as lesões superficiais, por
terem tamanho milimétrico, não aparecem em nenhum exame.
É
assim que, de forma muito precisa e segura, direcionamos todo o tratamento da
doença, quer seja com medicações hormonais, quer seja indicando um procedimento
cirúrgico. Esse cuidado é fundamental para se alcançar bons resultados
terapêuticos no tratamento da endometriose.