terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Se não fizer bem, mal não há de fazer... Será?


Ceci Mendes Carvalho Lopes
(Setor de Fitoginecologia da Clínica Ginecológica do HCFMUSP)

Nesse artigo voltado aos leigos a Dra. Ceci Mendes Carlhavo Lopes, chefe do setor de Fitoginecologia da Clínica Ginecológica do HCFMUSP e Consultora do assunto junto ao SUS fala dos perigos do uso indiscriminado ou mesmo sem orientação de fitoterápicos pela população.  

            É muito comum o uso de plantas para melhorar vários desconfortos. Com que saudade nos lembramos do carinho da Mamãe, quando nos trazia um chá que iria diminuir uma dor, ou um mal-estar, quando éramos crianças! O chazinho talvez curasse, mas o beijo, que vinha junto, alegrava o coração.

            Erva-cidreira, hortelã, boldo, camomila, e tantos outros, tinham um lugarzinho reservado no arsenal das mães e das avós, e resolviam muita coisa. Fomos crescendo habituados a isso. Com o tempo, outros produtos, com base em plantas de todo o tipo, foram mostrando sua utilidade. Eram remédios ao alcance da mão, resolviam os problemas, não tinham efeitos colaterais. De vez em quando, tinham sabor ruim, como o chá amargo de boldo, mas não passava disso.

            Adquirimos a noção de que esses produtos naturais são bons, na pior das hipóteses, se não resolvessem as queixas, não faziam mal.

            De modo geral, isso parece ser verdade. Porém, nem sempre é assim.

            Entre produtos vegetais, há alguns dos piores venenos existentes! Por exemplo, o chá de folhas de maracujá pode causar até a morte, dependendo da sua quantidade, da maneira de fazer, da sua concentração. Porque no maracujá há cianeto.



            Certa feita, uma paciente operada sangrava muito, e foi um drama conseguir estancar sua hemorragia. Ela correu sério risco. Depois, os médicos ficaram sabendo que ela estava usando ginkgo-biloba, porque tinha um zumbido no ouvido, e, como era um produto vegetal, nem lembrou de contar para o médico. O caso é que ginkgo-biloba contém uma substância anticoagulante. Após a operação, o sangramento não cessava, porque o sangue não coagulava. Bastaria ter sido interrompido o uso do fitoterápico alguns dias antes e não teria havido todo o problema que pôs em risco sua vida! Esta é outra lição importante: temos de contar ao médico sobre tudo que estivermos utilizando, quer seja por conta própria, quer indicado por outro médico, porque as várias substâncias podem interferir umas na ação de outras. Mesmo quando seja uma coisa aparentemente sem importância.

            Muitas vezes não estamos utilizando a planta certa. Há plantas muito parecidas, às vezes até “aparentadas”, mas que contêm substâncias diferentes, e, por isso mesmo, têm outra atuação. Outras vezes, podem estar contaminadas com inseticidas, ou agrotóxicos, ou mesmo mofos, e até insetos, que irão modificar o efeito esperado.

            No Brasil a legislação sobre medicamentos fitoterápicos é muito rigorosa. Assim, se adquirirmos fitoterápicos produzidos por laboratório farmacêutico, podemos confiar que houve liberação pela ANVISA, passando por testes, com dosagem e origem controladas. Devem ser encarados como verdadeiros remédios. Por isso, alguns médicos preferem chamá-los fitomedicamentos. Isso não é o que acontece em todos os países, no entanto. Por exemplo, nos Estados Unidos e no Canadá, são considerados complementos alimentares, e não são submetidos às mesmas condições de regulamentação e fiscalização, podem ser utilizados sem prescrição médica. Com isso, nem sempre são seguros, ou são usados de forma correta.

            Os produtos produzidos em farmácias de manipulação às vezes não têm o mesmo rigor no controle. Dependem da integridade do farmacêutico, que se espera seja muito boa, mas dependem também de matéria-prima de bom fornecedor, que, lastimavelmente, nem sempre ocorre, apresentando extratos de má origem. Lamentavelmente, muitos deles são importados, porque feitos de plantas de outros países, e há gente honesta e desonesta em todos os lugares do mundo... Já houve relatos de danos graves, porque os remédios “naturais” que pessoas estavam tomando, continham substâncias tóxicas.

            Outro ponto a ser considerado é a iniciativa pessoal em usar certos produtos, na crença de que são isentos de risco. Pode-se escolher erroneamente algo não aplicável ao caso. Vez por outra se utiliza o remédio certo, mas da forma errada, ou em dose inadequada. Isso pode fazê-lo ineficiente, ou, pior ainda, tóxico.

            Por tudo isso, fitoterápicos devem ser utilizados com cuidado, como remédios, que são. E, portanto, sob prescrição médica.