segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Uso da vacina contra o HPV em homens.

Licenciamento da Vacina Quadrivalente contra o HPV para o uso em homens e recomendações do Comitê Consultivo em Práticas de Imunizações dos Estados Unidos.

Homero Guidi*
novembro/2010.

Em 16 de outubro de 2009 o FDA (Food and Drug Administration) dos Estados Unidos licenciou o uso da vacina quadrivalente contra o HPV (Gardasil®) para o uso em homens entre 9 e 26 anos para a prevenção das verrugas genitais causadas pelos papilomavírus humanos do tipo 6 e 11, anteriormente liberada para as mulheres da mesma faixa etária para a prevenção das lesões envolvidas com os HPVs 6, 11, 16 e 18, incluindo o condiloma e lesões pré-cancerosas da vulva, vagina e colo do útero, relacionados em grande parte com os HPVs 16 e 18. A recomendação da vacinação masculina não é universal. Os estudos disponíveis até o momento, baseados em modelos matemáticos, apontam que a imunização desses meninos tem um custo-benefício justificável quando a cobertura vacinal da meninas não atingir 80%, quando focamos o aspecto de saúde pública. A outra indicação precisa é um grupo de risco para as verrugas ano-genitais e também as neoplasias intraepiteliais anais representada por homens que fazem sexo com homens (MSM). Há comprovação de alta eficácia na prevenção das neoplasias intraepiteliais anais. O esquema de vacinação é o mesmo preconizado para as garotas e inclui 3 doses, sendo a segunda dose administrada com intervalo de 1 a 2 meses após a primeira dose e a última, terceira, aplicada seis meses após a imunização inicial. Os intervalos mínimos entre a primeira e segunda dose são 4 semanas. Entre a segunda e a terceira dose são no mínimo 12 semanas de intervalo e entre a primeira e a última 24 semanas. O efeito colateral mais notado é dor leve no local da injeção e eventual síncope em pacientes mais jovens . Contra-indicação formal ao seu uso apenas diante de conhecida hipersensibilidade a leveduras.
Referência e fonte - Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP - Centers for Disease Control and Prevention (CDC)- Secretary of the U. S. Department of Health and Human Services. MMWR, 2010; 59(20): 630-631.

Comentário Editorial
A extensão da vacina quadrivalente contra o HPV é um fato natural e esperado dentro da comunidade dos especialistas envolvidos com a virose. O homem representa um vetor extremamente importante na disseminação da doença e lesões derivadas. Vários aspectos biológicos e anatômicos explicam a menor gravidade das infecções pelo HPV no homem, relativamente ao que se verifica na mulher, notadamente no aspecto oncogênico. A sociedade e os homens, no entanto, pagam um ônus elevado pelas lesões ano-genitais causadas por esses vírus e, em certos grupos (MSM), o aspecto oncológico é idêntico e tão grave quanto o feminino, quando consideramos as neoplasias intraepiteliais anais.
No exterior existe uma preocupação muito grande com a aplicação de modelos matemáticos para a avaliação custo x benefício x eficácia envolvendo as imunizações (e quaisquer outras ações de saúde pública) . Nessa recomendação chama a atenção a informação de quando a imunização masculina passa a ter um investimento justificado, em termos populacionais. A linha de corte é 80% de imunização feminina. Acima disso não há justificativa de incluir os meninos, abaixo os modelos apontam benefício efetivo. Para a prática do urologista brasileiro a questão fica bem clara: a vacinação pública inexiste e a proteção do garoto que ainda vai se iniciar na sua vida sexual é extremamente vantajosa e indicada, desde que haja recursos para esse fim. Em termos de vacinação pública somos de opinião que determinados “bolsões geográficos” dentro do Brasil , como algumas áreas do Nordeste em que o Câncer de colo ainda é muito prevalente e aparece em primeiro lugar entre os cânceres ginecológicos/femininos, muito adiante do câncer de mama a vacinação pública já deveria ter sido feita. Merece comentário ainda a afirmação da ACIP de que “até o momento” a indicação e maior eficácia da vacina é encontrada entre os meninos que ainda não foram expostos ao HPV e que “não existe evidência de eficácia da vacina entre homens já infectados pelo HPV” . Órgãos como a ACIP e o CDC trabalham com evidências e provavelmente os estudos que estão sendo conduzidos em homens deverão alterar esse conceito uma vez que os dados parciais do Lee Moffit envolvendo quase 4000 homens entre 9 e 26 anos com HPV recidivante e que receberam a vacina mostrem que há uma redução de 86% no número de episódios de recorrência dessas lesões em comparação com o grupo controle ( Giuliano & Palefskiy, 2008).

* Homero Gustavo de Campos Guidi é urologista, titular da SBU, Coordenador do Depto. de Doenças Sexualmente Transmissíveis da Soc. Bras. de Urologia, Chefe do Depto. de Assoalho Pélvico da mesma sociedade, Assistente da Clínica Ginecológica do HCFMUSP e editor desse site.