A qualidade das ações de saúde está baseada, em grande
parte, nas estatísticas das doenças.
Qualquer sistema de saúde efetivo precisa
disso para que possa direcionar ações, educação, investimentos e mesmo formatos
que devam ser seguidos.
À parte as estatísticas locais, de cada país, que, se
adequadamente alimentada por sistemas de coletas de dados fidedignos, são as
mais importantes localmente, no mundo, a Organização Mundial de Saúde e o Banco
Mundial tem lançado alguns estudos a respeito desse assunto (os chamados Global
Burden of Diseases- GBD).
Esse tipo de dados consolidados não estavam disponíveis antes dos
anos 90, excetuando estudos de mortalidade exclusivamente desde a década de 70.
O primeiro estudo GBD teve início em 1991 gerando resultados dos anos 90 (década), inclusive com algumas revisões. Hoje os dados permitem uma comparação entre resultados classificados como 1990, 2005 e 2010.
O primeiro estudo GBD teve início em 1991 gerando resultados dos anos 90 (década), inclusive com algumas revisões. Hoje os dados permitem uma comparação entre resultados classificados como 1990, 2005 e 2010.
O último estudo, depois de várias revisões intermediárias no período de tempo, envolve os
dados de 187 países, através de centenas e centenas de investigadores de 21
áreas epidemiológicas do mundo. Cobre uma lista de 291 doenças e agravos de saúde
e 67 fatores de risco.
Além do rank das doenças e causa de morte, alguns
indicadores importantes foram acrescentados e consolidados em termos do impacto
das doenças na saúde pública e individual, senão também em toda a sociedade. Esses
indicadores incluem parâmetros que tratam, por exemplo, dos anos de vida
perdidos por mortes prematuras. No estudo de 2010 isso foi metrificado
multiplicando-se o número de mortes pela
expectativa de vida no momento da morte, numa população de referência para cada
doença. O mesmo foi feito em relação ao impacto ou peso das incapacidades
geradas pelas doenças e também por sintomas importantes e de larga prevalência, como por exemplo a
lombalgia, dor cervical, depressão, osteoartrite e sintomas ansiosos, entre outros.
No caso das incapacidades geradas foi criado um indicador métrico denominado DALY (“disability-adjusted life-years”) representando os anos de "vida saudável" perdidos em razão da incapacidade determinada pela doença ou agravo.
No caso das incapacidades geradas foi criado um indicador métrico denominado DALY (“disability-adjusted life-years”) representando os anos de "vida saudável" perdidos em razão da incapacidade determinada pela doença ou agravo.
Globalmente, os números melhoraram muito pouco entre 1990 e 2010 e ainda são bastante sombrios. Em 1990 a estimativa era de 2497 milhões de DALYs que
baixaram para 2482 milhões em 2010. No rank das doenças há alguns dados muito interessantes e emblemáticos.
Para 1990, abaixo temos a lista das 10 principais doenças e seu respectivo DALY
(números em milhares):
1- Infecções respiratórias baixas (206.461)
2- Diarréia (183.543)
3- Complicações recém nascidos prematuros (105.965)
4- Doença isquêmica cardíaca (100.455)
5- Acidente vascular cerebral (86.102)
6- Doença pulmonar obstrutiva crônica (78.298)
7- Malária (69.141)
8- Tuberculose (61.256)
9- Desnutrição (60.542)
10- Encefalopatia neonatal (hipoxia/trauma de parto) (60.604)
Já em 2010 as 10 principais causas estão abaixo com seus respectivos DALYs (entre parênteses em milhares):
1- Doença isquêmica cardíaca
(129.795)
2- Infecções respiratórias baixas (115.227)
3- Acidente vascular cerebral (102.239)
4- Diarréia (89.524)
5- HIV-AIDS (81.549)
6- Malária (82.689)
7- Lombalgia (80.667)
8- Complicações recém nascidos prematuros (76.980)
9- Doença pulmonar obstrutiva crônica (76.779)
10- Acidentes de trânsito (75.487)
Esses dados ensejam algumas reflexões sobre o que aconteceu
na “esquina” dos séculos XX e XXI.
Em primeiro lugar a importância das infecções pulmonares (sobretudo a pneumonia) que persistiu nesses anos todos. A seguir a ascensão das doenças isquêmicas cardíacas e acidentes vasculares cerebrais, muito provavelmente relacionados com a hipertensão arterial, tabagismo, poluição (os três primeiros fatores de risco em termos do DALY de 2010), dieta pobre em frutas, uso de álcool e alto índice de massa corpórea (IMC), entre outros fatores comportamentais.
De resto persiste uma triste realidade da manutenção das doenças diarreicas e da malária entre as 10 mais, ainda em 2010, um desafio calcado no acesso deficiente à água tratada e saneamento básico, pelo mundo afora e o descaso do primeiro mundo pela malária, uma doença tropical. Uma das neglected diseases, que agora começam a receber a atenção de organismos internacionais, organizações não-governamentais, centros de pesquisa e indústria farmacêutica.
Essas duas últimas máculas da lista são compensadas, em parte, pela queda vertiginosa da Desnutrição (leia-se fome), perdendo 11 posições e caindo para o 20º. lugar no rank de 2010.
Merecem ainda numa análise inicial desses dados citarmos o peso do HIV-AIDS na saúde global, e provavelmente os esforços pelo acesso à assistência pré-natal, ao parto e ao neonato ensejado em áreas mais pobres do mundo.
Não menos importante o reconhecimento de agravos multi-etiológicos de sintomas como as lombalgias, representando grandes fatores incapacitantes no século XXI. E especificamente nas dores lombares, também provavelmente, apareçam os hábitos de vida inadequados vida (alto IMC, fumo, postura, etc).
Por fim, mas não menos preocupante e até alarmante o aparecimento dos acidentes de trânsito como a 10ª. causa de encurtamento dos anos de vida saudável na população mundial, sobretudo dos jovens, a despeito dos enormes avanços tecnológicos envolvidos em todos os aspectos do transporte.
Em primeiro lugar a importância das infecções pulmonares (sobretudo a pneumonia) que persistiu nesses anos todos. A seguir a ascensão das doenças isquêmicas cardíacas e acidentes vasculares cerebrais, muito provavelmente relacionados com a hipertensão arterial, tabagismo, poluição (os três primeiros fatores de risco em termos do DALY de 2010), dieta pobre em frutas, uso de álcool e alto índice de massa corpórea (IMC), entre outros fatores comportamentais.
De resto persiste uma triste realidade da manutenção das doenças diarreicas e da malária entre as 10 mais, ainda em 2010, um desafio calcado no acesso deficiente à água tratada e saneamento básico, pelo mundo afora e o descaso do primeiro mundo pela malária, uma doença tropical. Uma das neglected diseases, que agora começam a receber a atenção de organismos internacionais, organizações não-governamentais, centros de pesquisa e indústria farmacêutica.
Essas duas últimas máculas da lista são compensadas, em parte, pela queda vertiginosa da Desnutrição (leia-se fome), perdendo 11 posições e caindo para o 20º. lugar no rank de 2010.
Merecem ainda numa análise inicial desses dados citarmos o peso do HIV-AIDS na saúde global, e provavelmente os esforços pelo acesso à assistência pré-natal, ao parto e ao neonato ensejado em áreas mais pobres do mundo.
Não menos importante o reconhecimento de agravos multi-etiológicos de sintomas como as lombalgias, representando grandes fatores incapacitantes no século XXI. E especificamente nas dores lombares, também provavelmente, apareçam os hábitos de vida inadequados vida (alto IMC, fumo, postura, etc).
Por fim, mas não menos preocupante e até alarmante o aparecimento dos acidentes de trânsito como a 10ª. causa de encurtamento dos anos de vida saudável na população mundial, sobretudo dos jovens, a despeito dos enormes avanços tecnológicos envolvidos em todos os aspectos do transporte.
Considerando as atuais 10 causas que mais impactam a saúde
global, fica por conta do leitor refletir o quanto a Medicina e, por extensão
mais médicos, exclusivamente, podem influir diretamente e com preponderância
nas ações necessárias contra as doenças que nos afligem.
Por isso não existem doenças, existem doentes.
Mais do que
isso, a sociedade e governantes do mundo todo tem uma “lição de casa”, já de há tempos, que não
vem sendo feita a contento!
Editoria Dr. Homero Guidi
Fontes:
World Bank –
Development Report 1993. Oxford University Press, 1993
Murray et
al – GBD 2010 – Lancet 2012; 380:2063-6.
Wang et al –
Age-specific and sex-specific mortality in 187 countries, 1970-2010. Lancet
2012; 380:2071-94.